Tradução, reescrita e manipulação
- tradizendodt
- 3 de dez. de 2015
- 3 min de leitura

André Lefevere é um dos primeiros escritores a trazer em pauta a manipulação existente no mundo literário. Seu livro Tradução, reescrita e manipulação da fama literária, traduzido por Claudia Matos Siligmann, é um dos poucos livros que traz o tema da manipulação nas traduções. No seu livro ele nos traz vários exemplos de traduções, de poderes que controlam o mercado literário e isso tudo em um passado não tão distante que pode ser interligado ao presente. Nas aulas de Teoria de Tradução estudamos os 5 primeiros capítulos junto a alguns outros artigos. Durante a leitura nós podemos compreender mais sobre a aceitação da literatura e sobre o que está por traz de sua publicação. A seguir você pode ler um resumo para entender um pouco melhor o conteúdo do livro:
“Por meio do conceito de reescrita e manipulação, essa série tem como finalidade lidar com os problemas da ideologia, da mudança e do poder na literatura e na sociedade, afirmando a função central da tradução como força modeladora.”
André Lefevere
CAP.1
Introduz-se como objeto de estudo os intermediários, ou seja, os que reescrevem a literatura e possuem a responsabilidade de manter a obra viva, dentro de uma cultura diferente de sua origem, para um público de leitores não profissionais.
A partir do entendimento que cada obra possui um “valor intrínseco” ¹, temos que esse permanece o mesmo com as reescritas e possui um papel menor ao que pressupõe-se.
A razão de certos livros serem republicados ou até mesmo publicados se dá devido a um plano de fundo que é favorável a sua aceitação no meio, no qual, ideologias, poderes, instituições e manipulações são as responsáveis.
O antagonismo entre a cultura literária do século 17 para do século 20 se dá na disseminação de conhecimentos diversos em um “click”, o que no passado exigia muito estudo e pesquisa é hoje entregue ao leitor de bandeja. Deste modo, surgem a “alta” e “baixa” literatura no século 19.
A “alta” literatura é apenas tida no contexto educacional, como um requisito para se obter o diploma. O que contribui no isolamento entre o leitor profissional e o não profissional, o qual anda ocupado com a vida real e não se preocupa com a literatura. A busca por maneiras de alcançar a massa gera essa “Baixa” literatura, que é a versão condensada de clássicos e etc. De modo geral o que liga a “alta” literatura ao leitor não profissional é a tradução, a edição, a antologização de textos. Enfim, essa reescrita nítida de diversos textos.
Os reescritores criam a imagem de autores, gêneros, obras, períodos e essa imagem e seus impactos até hoje não é frequentemente estudada. Mas o fato é que as reescrituras são produzidas em uma determinada linha ideológica e/ou poetológica, as quais se identificam como algo menos partidário.
Exemplificando essa realidade do mundo literário citou-se alguns exemplos, entre eles: a republicação de livros dos anos 20, 30 e 40 do século 20, na década de 70, os quais são reescritos em um plano de fundo favorável; outro exemplo é a “doutrina” de reescrita de Santo Agostinho e como lugar de destaque Edward Fitzgerald por ser um exemplo da combinação de motivações/ restrições ideológica e poetológicas o que é bem expresso na seguinte frase e também epígrafe.
É uma diversão para mim tomar todas as Liberdades que queira com os persas, que (como penso) não são poetas o bastante para amedrontar alguém que queira fazer tais investidas e, além disso, eles precisam de um pouco de Arte para moldá-los.
Fitzgerald
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